segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Amizade desinteressada (?)


A cada passo encontramos cãezinhos a brincar uns com os outros; parece que entre eles reina sincera amizade; mas se lhes atirardes um osso quando brincam, ei-los inimigos; pegam de rosnar, ameaçando, e daí a pouco dilaceram-se. Tal é, frequentemente, a amizade dos irmãos, de pais e de filhos.

Epicteto

A corrosão da exposição pública

A vida de todas as nascentes profundas decorre com vagar; têm de esperar muito tempo antes de saber o que caiu nas suas profundezas. Tudo o que é grande foge da praça pública e da fama: é longe da praça e da fama que sempre viveram os inventores de novos valores.
Foge, meu amigo, refugia-te na tua solidão! Vejo-te aguilhoado pelas moscas venenosas. Refugia-te onde sopre um vento rijo e forte!
Refugia-te na tua solidão! Viveste muito perto dos pequenos e dos miseráveis. Foge da sua vingança invisível! A teu respeito só têm um sentimento, o rancor.
Não levantes mais a mão contra eles! São inumeráveis; o teu destino não é ser enxota-moscas!
São inumeráveis, esses pequenos, esses miseráveis; e já se viram altivos edifícios reduzidos a escombros pela acção das gotas da chuva e das ervas daninhas.

Friedrich Nietzsche, in 'Assim Falava Zaratustra'

A realidade do amor


Que sempre existam almas para as quais o amor seja também o contacto de duas poesias, a convergência de dois devaneios. O amor, enquanto amor, nunca termina de se exprimir e exprime-se tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. Os devaneios de duas almas solitárias preparam a magia de amar. Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade.

Gaston Bachelard, in ' A Poética do Devaneio'

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Equíno e o Suíno (Fábulas Fabulosas)

                                 
Estava um porco se refestelando na pocilga, quando passou por ele um maravilhoso cavalo, tratado e lavado: “Animal imundo!”, disse o cavalo. “Nem sei como você se atreve a contemplar o mesmo Sol que eu! Ficas aí, no meio da maior imundície, e todos te desprezam. E se te dão comida é apenas para que engordes, engordes, engordes, até que te mandem ao matadouro e sirvas de alimento para os homens. Agora, olha pra mim, tratado como um príncipe, ricamente ajaezado, enquanto parto pra mais nobre missão. Vou para o concurso de obstáculos da olimpíada, vou defender meu país.” E dizendo isso, saiu trotando pelos campos em direção a um ponto de fuga no horizonte.
Acontece, porém, que quando o cavalo chegou ao local da Glória, a Olimpíada já tinha terminado. E seu dono, não sabendo o que fazer com ele e não querendo perder todo o dinheiro que empregara em seus cuidados olímpicos, colocou-o no jóquei para disputar o Grande Prêmio Vale Tudo.
Mas o cavalo não era muito bom de corrida, perdeu esse prêmio e todos os outros dez páreos em que entrou. Aí, o dono, desesperado, encheu o cavalo de doping, picou-o de alto a baixo, e o cavalo só não ganhou a próxima corrida porque estourou na reta de chegada.
E acabou se encontrando dentro de uma salsicha com o porco que tanto desprezara. Depois, os dois foram comidos e se transformaram em adubo, e depois viraram alface e assim por diante.
MORAL: NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O sociólogo francês Gilles Lipovetsky conta como a era do hiperconsumo está transformando nossos conceitos e vontades

Bem-estar é o novo luxo

O sociólogo francês Gilles Lipovetsky conta como a era do hiperconsumo está transformando nossos conceitos e vontades

IZABELA MOI

EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRÍSSIMA

O sociólogo francês Gilles Lipovetsky, 66, tornou-se popular por escolher o consumo, a moda e o luxo como objetos de estudo. De jeans e sandálias, o autor de "A Felicidade Paradoxal" e "O Império do Efêmero" recebeu a reportagem na cobertura de um prédio na zona sul de São Paulo, onde foi hospedado.

Na cidade para um fórum mundial de turismo, Lipovetsky veio falar sobre o "consumo de experiência".

Abaixo, fala também da obsessão pela saúde e afirma: bem-estar é o novo luxo.

Folha - O que é "consumo de experiência"?

Gilles Lipovetsky - Vai além dos produtos que podem me trazer esse ou aquele conforto, ou me identificar com essa ou aquela classe. As razões para escolher um celular, hoje, vão além das especificações. Queremos ouvir música, tirar fotos, receber e-mails, jogar. Ter vivências, sensações, prazeres. É um consumo emocional.

Então, o que é o luxo, hoje?

O luxo, apesar de ainda existir na forma tradicional, também está mudando.

Quando buscamos um hotel de luxo hoje, não queremos torneiras de ouro, lustres. O luxo está nas experiências de bem-estar que o lugar pode oferecer. Spa, sala de ginástica, serviço de massagem. O bem-estar é o novo luxo.

Como consumir bem-estar?

Nos anos 60 e 70, quando o consumo de massa possibilitou que famílias de classe média se equipassem com produtos, o bem-estar ainda era medido em termos de quantidade. Hoje, o que está na cabeça das pessoas é o bem-estar qualitativo: a tal qualidade de vida. O que inclui a qualidade estética.

Qual a relação entre busca de bem-estar e uma sociedade mais e mais "medicalizada"?

A obsessão com a saúde e a prevenção é o lado obscuro do hiperconsumismo, gerador de ansiedade quase higienista. A quantidade de informação disponível torna o consumo complicado. Na alimentação, os consumidores estão ávidos pela leitura dos rótulos: quais são os ingredientes, de onde vêm, podem causar câncer, engordar? Há 40 anos, íamos ao médico uma vez por ano, se muito.

Hoje, um indivíduo faz até dez consultas por ano. O consumo de exames, para nos fazer sentir "seguros", cresce exponencialmente. Sintoma do hiperconsumismo: queremos comprar nossa saúde.

Como vê as campanhas contra o cigarro e a obesidade?

O hiperconsumidor está preso num emaranhado de informações e ele tem muitas regras a seguir. Parar de fumar faz parte da lógica da prevenção. É um sacrifício do presente em prol do futuro.

No hiperindividualismo, a gestão do corpo é central. Esse autogerenciamento permanente explica, também, a onda do emagrecimento.

Expor-se ao sol é arriscado, mas é considerado bonito ter a pele bronzeada. Privar-se de comer é privar-se do prazer. É um paradoxo que todos vivem e, por isso, no caso dessas mulheres subjugadas ao terrorismo da magreza, elas sentem culpa. As regras são contraditórias.

Qual é a saída para toda essa ansiedade?

As compras. Antes as pessoas iam à missa, agora elas vão ao shopping center.

Comprar, ir ao shopping, viajar -são as terapias modernas para depressão, tristeza, solidão. Você pode comprar "terapias de desenvolvimento pessoal". Um fim de semana zen, um pacote de massagens. Todas as esferas de vida estão subjugadas à lógica do mercado.

Por que as pessoas não se sentem felizes?

O hiperindividualismo aparece quando nossa sociedade nega as instituições da coletividade. A religião, a comunidade, a política. Os deuses são os homens. O indivíduo é um agente autônomo que deve gerenciar a própria existência. Esse indivíduo pode fazer escolhas privadas -que profissão fazer, com quem se casar, o que comprar- mas está submetido às regras da globalização econômica de eficácia, de produtividade, juventude, consumo. O acesso ao conforto material, enquanto sociedade, não nos aproximou da felicidade. Há tanta ansiedade, tanto estresse, tanta angústia e tanto medo que a abundância não consegue proporcionar um sentimento de completude.

Consumimos para esquecer?

Também. Mas há um outro lado. Desenvolvemos o que eu chamei de "don juanismo" [ele cita o personagem "Don Juan", da ópera de Mozart, que "conheceu" 1.003 mulheres]. Todos nos transformamos em Dons Juans.

Somos todos colecionadores de experiências. Temos medo que a vida passe ao largo.

Existe um senso comum que nos diz que se não tivermos vivido tal ou tal experiência, teremos perdido nossa vida.

É uma luta contra o tédio, uma busca incansável e viciada pela novidade, pela fuga da rotina.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A sorte e o azar

Sexta-feira da Paixão, a menininha acordou, cheia de alegria, foi pra janela do barraco e meteu os peitos no último pagodão romântico, composto pela dupla Depardiê Belmondô e Marlon Bochecha (1).
A mãe, assustada, gritou:
- Pára com isso, Tardiosa! Neste dia só se canta música sacra, menina! – E como a menina não ligasse, a mãe sentenciou: - Deus castiga quem canta o que você está cantando, você vai ver só! Pára com isso!
Pois nesse exato momento aí, ia passando pela frente do barraco Maurice Gerard, diretor do Olimpiá (2):
- Que voz, menina!
E a menina, delicadíssima, respondeu:
- Percebo que messiê não sabe bem português; vós não sinhô, pode me tratar de você!
Gerard corrigiu:
- Sei português muito bem, estou falando mesmo de tua voz magnífica, e vou te contratar pra cantar no Olimpiá! (3) Toma aqui dez mil dólares por conta e entra aí em meu Porsch, que vou passar um fax pra Paris, enquanto você assina o contrato prum circuito de um ano na Europa, França e Bahia.
A menina assinou o contrato, contentíssima. E a mãe, que já tinha aprovado, assinou como testemunha. A menina, antes de entrar no carrão, saiu saltitante, já cantando em francês, não viu o buraco, caiu e ficou gemendo de dor, com o pé torcido, talvez quebrado.
- Viu? – disse a mãe – Eu não falei que cantar música profana na Sexta-feira da Paixão, Deus castiga?
MORAL: Todo vaticínio é relativo ou Botar a boca no mundo é perigoso.

1 - A influência estrangeira na MPB continua cada vez maior. Apesar dos nomes, ambos os compositores são negros.
2 - Aquele mesmo que convidou pra cantar lá a cigarra, da Cigarra e a Formiga, só pra desmoralizar La Fontaine.
3 - Ou ela, ou eu, alguém está copiando a vida da Piaf - em preto e branco.

Fonte: Millôr Fernandes

Brasil, meu Brasil brasileiro!

Pô, também não devemos só falar mal! Pois ainda somos melhor em muita coisa:

1. Nenhum brasileiro convoca os amigos para apedrejar a própria mulher porque ela o passou para trás.
2. Nenhum jornal brasileiro gasta páginas e páginas com esportes idiotas como o beisebol.
3. Só brasileiro muito pobre vai de bicicleta pro trabalho.
4. Cremação, no Brasil, geralmente só acontece com o sujeito depois de morto.
5. Mesmo os políticos são usados até o fim e não envenenados.
6. Vaca sagrada no Brasil é só uma maneira de dizer, embora muitas vezes atrapalhe o tráfego.
7. Quando um ministro fala demais ninguém nos impede de desligá-lo (na TV).
8. Brasileiro não é muito chegado a coisas violentas, como touradas. O Brasil também não dá grandes lutadores de boxe. Nosso machismo conhece suas limitações.
9. Os trens podem não chegar na hora, mas chegam no dia.
10. O tamanho e o desenho do país não tem mudado muito, nos últimos 100 anos.

Fonte: Site do Millôr - http://www2.uol.com.br/millor/aberto/dailymillor/010/026.htm

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Além do bem e do mal - Capítulo II - O espírito livre - Parágrafo 26

26. Todo homem seleto procura seu castelo para se distanciar da multidão, para se esquecer da regra “homem” enquanto se vê como exceção, exceto quando é impelido à regra pelo instinto do homem do conhecimento. Aquele que não se enrubesce ao percorrer as aflições, nojo, compaixão, isolamento e tristeza no trato com os homens não tem gosto elevado; se ele não assume voluntariamente esse fardo e desgosto, esquivando-se em seu castelo, não foi feito para o conhecimento. Se fosse, deveria dizer “ao diabo com o bom gosto! A regra é mais interessante que eu, a exceção”. O estudo do homem médio, sério e prolongado, exige dissimulação, familiaridade, má companhia: é parte necessária no currículo do filósofo, a mais desagradável e rica em decepções. Mas se ele tem sorte, depara com facilitadores de sua tarefa: os cínicos, que reconhecem em si o animal, o vulgar e a “regra”, mas possuem espiritualidade que os obrigam a falar de si e dos seus iguais aos outros ou em livros. Almas vulgares se aproximam da honestidade unicamente pelo cinismo, e o homem superior deverá ter ouvidos atentos para todo cinismo dos bufões sem pudor e sátiros da ciência. Em alguns casos o fascínio se mistura ao nojo: quando o gênio é associado a um desses macacos indiscretos, como o Galiani, o mais profundo, penetrante e sujo homem do século. Ainda ocorre que uma cabeça científica, uma inteligência, se encontre em um corpo de símio, numa alma vulgar – como os médicos e fisiólogos da moral. Deve-se ter ouvidos para quem fala do homem, inofensivamente e sem indignação, como uma barriga de duas necessidades e uma cabeça de uma – fome, desejo sexual e vaidade, únicos móveis das ações humanas. O homem indignado, que dilacera a si, a deus e a sociedade pode ser moralmente superior ao sátiro, mas é o caso mais comum e menos instrutivo, e ninguém mente mais que um indignado.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Inflação (Millôr Fernandes)

"Inflação? Afinal, o que é inflação? Bem! A carne anda cara: você deixa de comer carne. A fruta anda cara: você deixa de comer fruta. O legume anda caro; você deixa de comer legume. Aí só lhe resta comer macarrão todos os dias, porque massa ainda é uma comida barata. Um mês depois, você vai fechar a calça e vê que ela não fecha mais. Inflação é isso."

terça-feira, 27 de julho de 2010

Políticos (Por George Carlin)

Algumas vezes na comédia você precisa generalizar. Existe uma coisa que eu não reclamo, vocês devem ter percebido: Políticos. Todo mundo reclama dos políticos, todo mundo diz que eles são uns babacas. Mas de onde vocês acham que esse políticos vem? Eles não caem do céu. Eles não mudam de dimensão por uma membrana. Eles vem de pais americanos, famílias americanas, casas americanas, escolas americanas, igrejas americanas, negócios americanos, universidades americanas, e são eleitos por cidadãos americanos.

Isso é o melhor que nós podemos fazer, pessoal. É isso que nós temos a oferecer. É o que o nosso sistema produz, lixo entra e lixo sai. Se você tem cidadãos ignorantes, terá líderes ignorantes. E se você discorda disso, você faz parte dos idiotas ignorantes americanos. Então, talvez, não são os políticos que fedem, talvez alguma outra coisa fede por aqui, como… o PÚBLICO. “O público fede”, aqui está um bom slogan pra uma campanha. “O público fede, foda-se a esperança!”.

E bem no meio dessa gente estão as pessoas brilhantes, pessoas conscientes. Onde estão os americanos inteligentes e honestos prontos pra entrar em ação, salvar a nação e liderar? Nós não temos mais essas pessoas no país, todo mundo tá no shopping, coçando a bunda, limpando o nariz, tirando o cartão de crédito do seu bolso e comprando um par de tênis com luzinhas.

Então eu resolvi esse dilema político pra mim, de uma forma bem simples: No dia da eleição eu fico em casa… eu não voto. Fodam-se, fodam-se, eu não voto. Por dois motivos, primeiro: É inútil, esse pais foi comprado e vendido há muito tempo atrás, as merdas que eles mexem a cada quatro anos não significam nada. E em segundo lugar, eu não voto pois eu acredito que se você vota, não tem direito de reclamar. As pessoas gostam de inverter as coisas né? Eles dizem: “Ora, se você não vota não pode reclamar”… onde está a lógica nisso? Se você vota, e elege pessoas desonestas e incompetentes que fodem tudo, você que é responsável por eles. Você causou o problema, você votou neles, você não tem direito de reclamar. Eu, por outro lado, que não votei, que de fato nem sai de casa no dia da eleição, não sou responsável pelo que essas pessoas fazem. E tenho direito de reclamar da bagunça que você criou, que eu não tenho nada a ver.

Então eu sei que logo teremos as eleições presidenciais que vocês tanto amam. Divirtam-se, será muito divertido. Assim que a eleição terminar seu país elegerá um novo presidente e vocês o aprovarão. Quanto a mim, estarei em casa nesse dia fazendo a mesma coisa que você, a única diferença é que quando eu terminar de me masturbar, eu terei alguma coisinha pra mostrar.

Muito obrigado!

PS: Esse texto é retirado de uma de suas apresentações.

PS2: Se quiserem trocar a palavra "americanos" por brasileiros, fará o mesmo sentido.

PS3: Se você é membro assíduo de reuniões e eventos "políticos", esse texto jamais fará sentido.

terça-feira, 18 de maio de 2010

A melhor companhia

Considero saudável estar só na maior parte do tempo. Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se torna enfadonho e dispersivo. Adoro estar só. Nunca encontrei um companheiro tão sociável como a solidão. Estamos geralmente mais sós quando viajamos com outros homens do que quando permanecemos nos nossos aposentos. Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só, deixai-o pois estar onde ele deseja. A solidão não é medida pelas milhas de espaço que separam um homem e os seus congéneres.

O estudante verdadeiramente diligente de um dos enxames da Universidade de Cambridge está tão solitário como um derviche no deserto. O agricultor pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques durante todo o dia, mondando ou podando, e não se sentir solitário porque está ocupado; mas quando chega a casa, à noite, não consegue sentar-se numa sala sozinho, à mercê dos seus pensamentos. Tem que ir onde possa «estar com as pessoas», distrair-se e ser compensado pela solidão do seu dia; e, assim, interroga-se como pode o estudante estar só em casa durante toda a noite e grande parte do dia sem se aborrecer ou sentir-se deprimido. Mas ele não entende que o estudante, se bem que em casa, ainda está a trabalhar no seu campo, a podar os seus bosques, tal como o agricultor o faz nos seus e que, por seu turno, procura a mesma diversão e companhia que este, embora eventualmente de uma forma mais condensada.

Ouvi falar de um homem perdido na floresta e a morrer de fome e de exaustão ao pé de uma árvore e cuja solidão era aliviada pelas visões grotescas com que, devido à fraqueza física, a sua imaginação doente o rodeava, e que ele acreditava serem reais. Assim também, graças à saúde e à força física e mental, podemos sentir-nos continuamente animados por uma companhia semelhante, se bem que mais normal e natural, é chegarmos à conclusão de que nunca estamos sós.

Henry David Thoreau, in 'Walden'

domingo, 16 de maio de 2010

A vida como luta entre a realidade e o sonho

Somos um sonho divino que não se condensou, por completo, dentro dos nossos limites materiais. Existe, em nós, um limbo interior; um vago sentimental e original que nos dá a faculdade mitológica de idealizar todas as coisas. (...) Se fôssemos um ser definido, seríamos então um ser perfeito, mas limitado, materializado como as pedras. Seríamos uma estátua divina, mas não poderíamos atingir a Divindade. Seríamos uma obra de arte e não vivente criatura, pois a vida é um excesso, um ímpeto para além, uma força imaterial, indefinida, a alma, a imperfeição.

A vida é uma luta entre os seus aspectos revelados e o limbo em que eles se perdem e ampliam até à suprema distância imaginável; uma luta entre a realidade e o sonho, a Carne e o Verbo.
Entre nós, o Verbo não encarnou inteiramente. Somos corpo e alma, verbo encarnado e verbo não encarnado, a matéria e o limbo, o esqueleto de pedra e um fumo que o enconbre e ondula em volta dele, e dança aos ventos da loucura...
E aí tendes um pobre tolo sentimental, uma caricatura elegíaca.
Neste limbo interior, neste infinito espiritual, vive a lembrança de Deus que alimenta a nossa esperança, e transfigura esse bicho do Demónio, que anda por esses boulevards, vestido à moda ou coberto de farrapos.

Ardemos num incêndio de esperança, para que reste de nós uma lembrança, um fumo que sobe e não se apaga.

Tudo é memória: um fumo leve, em mil visagens animadas; ou denso, em formas inertes e sombrias; e, ao longe, a grande fogueira invisível que os demónios e os anjos alimentam.
Vivo, porque espero. Lembro-me, logo existo.

Teixeira de Pascoaes, in 'O Pobre Tolo'

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A mentira é a base da civilização moderna

É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.
Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.

A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensaguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc. ...
E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão paracer-se-à com a fome de luz?...

Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A sombra da pessoa

(...) Uma pessoa não está... nítida e imóvel diante dos nossos olhos, com as suas qualidades, os seus defeitos, os seus projetos, as suas intenções para conosco (como um jardim que contemplamos, com todos os seus canteiros, através de um gradil), mas é uma sombra em que não podemos jamais penetrar, para a qual não existe conhecimento direto, a cujo respeito formamos inúmeras crenças, com auxílio de palavras e até de atos, palavras e atos que só nos fornecem informações insuficientes e aliás contraditórias, uma sombra onde podemos alternadamente imaginar, com a mesma verosimilhança, que brilham o ódio e o amor.

Marcel Proust, in 'O Caminho de Guermantes'

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sabedoria prática inexistente

A maioria dos luxos e muitos dos chamados confortos da vida não só são dispensáveis como constituem até obstáculos à elevação da humanidade. No que diz respeito a luxos e confortos, os mais sábios sempre viveram de modo mais simples e despojado que os pobres. Os antigos filósofos chineses, indianos, persas e gregos eram uma classe que se notabilizava pela extrama pobreza de bens exteriores, em contraste com a sua riqueza interior. Embora não saibamos muito a seu respeito, é de admirar que saibamos tanto quanto sabemos. O mesmo acontece com reformadores e benfeitores mais recentes, da nacionalidade deles. Ninguém pode ser um observador imparcial e sábio da raça humana, a não ser da posição vantajosa a que chamaríamos pobreza voluntária.

O fruto de uma vida de luxo é também luxo, seja em agricultura, comércio, literatura ou arte. Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser um filósofo não é apenas ter pensamentos subtis, nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança. É solucionar alguns problemas da vida não só na teoria mas também na prática.

Henry David Thoreau, in 'Walden'

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Vale a pena colocar uma análise feita por um dos leitores que comentou tal texto:

Além do discurso elaborado, Thoreau disse mui belmente uma frase que muito me surpreendeu: "ninguém pode ser um observador imparcial e sábio da raça humana, a não ser da posição vantajosa a que chamaríamos pobreza voluntária".
É decerto que há muitos larápios por aí a repesentar a filosofia falsamente.Algo que torna-se a multiplicar uma vez que,como disse: "hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos",estando por conseguinte fechado o ciclo...perdemos a tradição do filosofar, da reflexão elaborada entrando numa época de reflexão consentida em meio a prevalescência da ação(seja no trabalho, nas lutas,etc). na vida a que levamos....cada segundo torna-se uma oportunidade e disto, a sorte calha mais que o próprio pensar...De sorte em sorte,o homem cada vez mais se perde em seus crescentes problemas...

domingo, 9 de maio de 2010

Nenhum ser feliz pode saber que o é

Com a felicidade acontece o mesmo que com a verdade: não se possui, mas está-se nela. Sim, a felicidade não é mais do que o estar envolvido, reflexo da segurança do seio materno. Por isso, nenhum ser feliz pode saber que o é. Para ver a felicidade, teria de dela sair: seria então como um recém-nascido. Quem diz que é feliz mente, na medida em que jura, e peca assim contra a felicidade. Só lhe é fiel quem diz: fui feliz. A única relação da consciência com a felicidade é o agradecimento: tal constitui a sua incomparável dignidade.

Theodore Adorno, in "Minima Moralia"

sábado, 8 de maio de 2010

O defeito dos 'homens ativos'

Aos ativos falta, habitualmente, a atividade superior: refiro-me à individual. Eles são ativos enquanto funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como seres genéricos, mas não enquanto pessoas perfeitamente individualizadas e únicas; neste aspecto, são indolentes. A infelicidade das pessoas ativas é a sua atividade ser quase sempre um tanto absurda. Não se pode, por exemplo, perguntar ao banqueiro, que junta dinheiro, qual o objetivo da sua incansável atividade: ela é irracional. Os homens ativos rebolam como rebola a pedra, em conformidade com a estupidez da mecânica. Todos os homens se dividem, como em todos os tempos também ainda atualmente, em escravos e livres; pois quem não tiver para si dois terços do seu dia é um escravo, seja ele, de resto, o que quiser: político, comerciante, funcionário, erudito.

Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A vida em conformidade com princípios mais elevados

Se a pessoa der ouvidos às sutis mas constantes sugestões do seu espírito, sem dúvida autênticas, não vê a que extremos, e até loucura, ele pode levá-la; contudo, por aí envereda o seu caminho à medida que cresce em resolução e fé. A mais leve objecção segura que um homem sadio fizer, com o tempo prevalecerá sobre os argumentos e costumes da humanidade. Nenhum homem jamais seguiu a sua índole a ponto de esta o extraviar. Embora o resultado fosse fraqueza física, ainda assim talvez ninguém pudesse dizer que as consequências eram lamentáveis, já que representariam a vida em conformidade com princípios mais elevados. Se o dia e a noite são de tal natureza que vós os saudais com alegria, se a vida emite uma fragrância de flores e ervas aromáticas e se torna mais elástica, mais cintilante e mais imortal - aí está o vosso êxito.

A natureza inteira é a vossa congratulação e tendes motivos terrenos para bendizer-vos. Os maiores lucros e valores estão ainda mais longe de serem apreciados. Chegamos facilmente a duvidar de que existam. Logo os esquecemos. Constituem, entretanto, a realidade mais elevada.
Talvez os factos mais estarrecedores e verdadeiros nunca sejam comunicados de homem a homem. A verdadeira colheita do meu dia a dia é algo de tão intangível e indescritível como os matizes da aurora e do crepúsculo. O que tenho nas mãos é um pouco de poeira das estrelas e um fragmento do arco-íris.

Henry David Thoreau, in 'Walden'

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Vida Ilusória

Ao mesmo tempo que a realidade é uma fábula, simulações e enganos são considerados como as verdades mais sólidas. Se os homens se detivessem a observar apenas as realidades, e não se permitissem ser enganados, a vida, comparada com as coisas que conhecemos, seria como um conto de fadas ou as histórias das Mil e Uma Noites.
Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem direito a ser, a música e a poesia ressoariam pelas ruas fora. Quando somos calmos e sábios, percebemos que só as coisas grandes e dignas têm existência permanente e absoluta, que os pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombra da realidade, o que é sempre estimulante e sublime. Por fecharem os olhos e dormirem, por consentirem ser enganados pelas aparências, os homens em toda a parte estabelecem e confinam as suas vidas diárias de rotina e hábito em cima de fundações puramente ilusórias.

Henry David Thoreau, in 'Walden'

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Virtude ociosas e bolorentas

Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar.

O estilo, a casa com o terreno em volta e o «entretenimento» não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.
Até quando nos sentaremos nós nos nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e bolorentas, que qualquer trabalho tornaria descabidas? É como se alguém começasse o dia com paciência, contratasse alguém para lhe sachar as batatas, e de tarde saísse para praticar a mansidão e a caridade cristãs com bondade premeditada!

Henry David Thoreau, in 'Walden'

terça-feira, 20 de abril de 2010

Coleção de frases!

Sou a sabedoria de todas as minhas perguntas e a ignorância de todas as minhas respostas.

(Diego)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Conversa da noite...

Bom, vou voltar com uns posts que costumava colocar aqui que tem o título acima: "Conversa da noite". Preciso, além de guardar algumas coisas, repassar tais idéias pra quem quiser contribuir com reflexões diversas.

A de hoje é essa:

Diego diz (21:03):
o perigo de querer dar razao a coisas que sao guiadas por sentimentos
isso acaba desconectando o mundo do oculto
olhai o exemplo massa q ele da
o cara dava dinheiro para um cara bem pobre
Diego diz (21:04):
pq achava q o cara precisava de dinheiro
e queria ajudar
e quanto mais dinheiro ele dava a esse cara
mais rico ele ficava
pq deus compensava ele
( nao to falando que deus existe, eh so para uma melhor compreensao do tema )
ai quando ele perecebeu que isso tava acontecendo
ele pensou que se desse dinheiro a alguem mais pobre
deus ia dar mais dinheiro a ele
Diego diz (21:05):
e parou de dar dinheiro ao cara
e começou a dar dinheiro a alguem mais pobre
e acabou perdendo tudo que tinha
acabou perdendo tudo que tinha pq ele tentou colocar razao
a uma coisa que nao tem razao
nao tinha logica
Diego diz (21:05):
sacou?
eh foda
Diego diz (21:06):
quando ele dava dinheiro ao cara nao tao pobre
ele dava por ser um sentimento
q ele tinha
achava q o cara precisava
no segundo caso ele quis usar uma logica
para ganhar mais dinheiro
e acabou perdendo tudo
Diego diz (21:08):
quando vc tenta dar logica
a parte sem logica da vida
vc acaba perdendo os beneficios
que a tolice iria te proporcionar
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"A essência dos bons momentos da nossa vida, estão na tolice de serem guiados pelos sentimentos."

terça-feira, 6 de abril de 2010

Eterna busca pelo sentido (Por: Belisa Parente)

Peguei-me pensando no sentido da vida. No desenrolar dos fatos, dos anos que se arrastam ou voam, nas buscas pessoais, profissionais, nos sonhos, nas lutas cotidianas. Nas pessoas que entram em nossas vidas sem pedir permissão, nas que sonhamos ter para sempre ou já nos despedimos para nunca mais.
O nasce, cresce, reproduz e morre já não é regra. Não, não é para mim. Nem é o sentido de tudo. Não viemos aqui unicamente para parir, ganhar um mini palácio no cemitério ou ser uma responsabilidade, um elo para alguém. Não só para isso. Somos e queremos mais; mais de um motivo para acordar no dia seguinte abrir os olhos e sentir satisfação por estar vivo.
Todo ser humano sofre de algo, mesmo os donos dos mini palácios, o rei do pop, do blues, jazz, rock. Qual o sentido do sofrimento, então? Essa angústia que pede sempre mais do mundo, e se corrói, sente dor, passa mal, quer morrer. Até os mais sábios provaram. O sentido de tudo seria a dor? Já dizia Schopenhauer: “Alles Leben Leiden ist” (Toda vida é sofrimento). Frase tão catastrófica em pleno século 21, chocante, considerada super pessimista, quando é uma das mais simples verdades existenciais. Para os budistas, a origem da dor e do sofrimento está na volúpia humana, nos desejos – por isso tentam reprimi-los. Lembro do Sidarta Gautama de Hesse cedendo por completo aos encantos de Kamala, experimentando e se entregando a todos os tipos de desejos e paixões, descobrindo uma felicidade nova, desconcertante, avassaladora. Às vezes pegamos uma trilha, um desvio, e nos afastamos do caminho inicial. Mas nada é em vão, e sempre há luz atrás das ilusões.
Fiquei pensando nas pessoas as quais escolhemos a dedo, dizemos: É você! E depois nos enganamos, arrependemos, ou enfim encontramos nossa alma gêmea e estamos ligados até o sexosemfimamém. Muitos casais de namorados, e amigos, conseguem conservar uma convivência boa por toda a vida, pois a existência de um e outro faz todo sentido – até mesmo quando distantes. A vida comporta desavenças, pode sim reconhecer ter ido pelo caminho errado. Como também pode morrer presa a situações indesejadas, onde o comodismo fala mais alto, o moralismo, a falta de capacidade de assumir o erro, ou a falta de clarividência, coragem ou amor próprio. Ouvi dizer que clarividência é um dom, ou se tem ou não, nenhum livro, pensamento, ensinamento, pode ensinar. Cada caso é um caso, e “a vida é o que está acontecendo enquanto estamos pensando em outras coisas”, como disse há tempos minha amiga Leda Vahalla Crowley. O sentido é único, particular, e ao mesmo tempo ligado às pessoas, valores, noções. E o caminho é a verdade, o amor, e a luz.
Dúvidas sobre o significado da existência humana costumam ser silenciosas, e sempre vão existir. Dificilmente os suicidas, por exemplo, descrentes que a vida tenha algum sentido, anunciam antecipadamente essa renúncia. Ao contrário, eles se deixam consumir por dentro, como uma chama crescente que um dia se espalha por todo o corpo e inflama. E o Homem Absurdo de Camus, descrente do sentido profundo das coisas?! É bom falar, pensar, tentar entender o destino que se interpõe constantemente no nosso dia a dia, no agora, no que passou e no que virá. Afinal, só colhemos o que plantamos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A semana começa com mudanças, muitas mudanças...

''Não quero a harmonia, por amor à humanidade não a quero.Quero antes ficar com os sofrimentos não vingados.O melhor mesmo é que eu fique com meu sofrimento não vingado e minha indignação não saciada, ainda que eu não esteja com razão.Ademais, estabeleceram um preço muito alto pela harmonia, não estamos absolutamente em condições de pagar tanto para entrar nela.É por isso que me apresso a devolver meu bilhete de entrada.E se sou um homem honrado sou obrigado a devolvê-lo o quanto antes.E é o que estou fazendo.Não é Deus que não aceito, estou apenas devolvendo seu bilhete da forma mais respeitosa".

Fiódor Dostoievski

quinta-feira, 18 de março de 2010

O homem de ferro

Homem de ferro

De Henrique Szklo

Me sinto ameaçado pelo mundo. Uma ameaça constante e perturbadora. Por isso sou duro, muitas vezes inflexível e implacável. Sinto que se o vento bater forte eu vou quebrar, por isso não vergo. Travo, resisto até a morte. Bato de volta no vento pra ele deixar de ser besta. Sei que é inútil. Sei que preciso relaxar, pra minha própria sanidade, pra minha própria sobrevivência. Sei de tanta coisa que não serve pra nada. Mas como vou abrir a minha guarda assim sem mais nem menos, esperando o direto no meu queixo. Como vou relaxar e gozar se a ameaça está sempre à espreita? Como, se eu sinto que um mínimo momento de fraqueza pode abrir as portas do meu castelo e me destruir por dentro? Estou cercado por cavalos de tróia. Isso se reflete na minha atitude, nas minhas relações, nos meus gestos. Sou uma pessoa dura. Acredito que minha linguagem corporal expressa essa inflexibilidade com mais presteza que as palavras. Isso afasta as pessoas, afasta os empregos, afasta tudo. Como diferenciar uma ameaça de um carinho? Como saber se a mão que chega vem para esmurrar ou para afagar? Na dúvida, eu impeço a mão de me tocar. Às vezes de forma áspera, como que uma mensagem subliminar: não volte mais aqui, não se atreva. Quem consegue uma aproximação comigo o faz à maneira dos adestradores de cães raivosos. Vêm com calma. Tentam ganhar a confiança lentamente com gestos nunca bruscos. Tentando comprar a confiança com pequenos pedaços de carne. Mas a maioria das pessoas não tem esta paciência, por isso correm o risco de serem mordidas pelo cão que tentam alimentar. Aliás, mesmo aqueles que acreditam ter adestrado o animal, correm risco constante de levar uma abocanhada. Ao meu lado, ninguém está totalmente seguro. Tentar transpassar minhas defesas, meu campo de força, minha carapaça é uma missão inglória. Sou uma pessoa blindada. Sou o homem de ferro. Tenho uma capacidade de proteção e de ataque invejável, mas não me comunico com o mundo exterior e tenho meus movimentos prejudicados pelo peso e pela falta de flexibilidade da armadura. É isso que eu sou, um herói solitário. Minhas pretensas boas intenções se perdem na minha luta contra o mal. Uma luta que brutaliza aos poucos, que desfigura lentamente as feições humanas. Não sei se algum dia conseguirei tirar meu traje protetor e encarar o vento e o sol e as pessoas de peito aberto. Todo herói tem seus dilemas. Herói bem resolvido não é herói. Talvez eu não queira ser herói. Mas só talvez. Talvez o que eu queira de verdade ainda não foi desvendado. Talvez nunca seja. Certamente nunca será.

domingo, 14 de março de 2010

O petróleo é nosso... é?

Em pleno século 21, onde o mundo todo fala em sustentabilidade e consciência ambiental, vemos Dinossauros da política brasileira brigando por uma certa quantidade de "óleo" que, já não bastando as propriedades tóxicas de tal óleo, eles ainda conseguem deixar o produto ainda mais sujo ao colocar todo o orgulho e toda a ganância sob ele.

A solução era um asteróide, mas não esperemos tanta bondade da natureza. Há outro asteróide: uma Assembléia Constituinte. Proposta que tramita, obscuramente, claro, pelos corredores da câmara. Tanto pelo próprio conteúdo da proposta, quanto pelo medo que os Dinossauros da nossa política tem de deixar o poder e a "boquinha" que é representar o "povo" no palanque da democracia, desfarçada, brasileira.

Ao Sérgio Cabral e seus amiguinhos eu reivindico o mesmo que eles. Eu não quero que 1 real meu, nem de muita gente, contribua para a maior palhaçada da decada: uma Copa e uma OlimPIADA num país que não consegue nem cuidar das suas crianças e de seus idosos. Num país onde a única distribuição de renda que funciona e que vemos pra onde o dinheiro vai é em um programa de TV, no programa do Silvio Santos. Um país que cospe na cara do cidadão e ainda vê no outro dia, na TV, o seu presidente e os seus comparsas rindo da sua cara, falando que não sabem de nada, te chamando de vagabundo e mandando relaxar e gozar.

Não, Sergio Cabral, eu não quero que 1 real meu vá parar nas suas "obras". E se for, eu vou te processar. Por que eu não permiti que o meu dinheiro fosse parar nas suas mãos, tão sujas de óleo. Antes fosse, somente óleo...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Dica de bandas

Bom, pra quem curte um som diferente e alternativo ai vão algumas dicas de bandas e com quais bandas elas mais se parecem. Vale a pena escutar pra quem ta cansado desse rock brasileiro que não tem nada de novo.


-Stereophonics

Parecido com: Embrace, Travis, Snow Patrol

-Richard Ashcroft
Parecido com: Embrace, Travis, Keane

-Morning Runner
Parecido com: Embrace, Thirteen Senses, Starsailor

-Delays
Parecido com: Embrace, Thirteen Senses, Keane

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

**Millôr Online - Enfim um Escritor sem Estilo**

"Cristo foi seguido por suas parábolas demagógicas e crucificado por seus planos de reforma social."

**Millôr Online - Enfim um Escritor sem Estilo**

"Ninguém fala mais entusiasticamente de livre-empresa, de leis de mercado e 'que vença o melhor' do que a pessoa que herdou tudo do pai"

Cultivando Frases

Basta dessa inutilidade de voto em branco e voto nulo. O país deve adotar imediatamente o VOTO CONTRA. A verdadeira, e simples, revolução democrática. (http://www2.uol.com.br/millor/)

Pedra no sapato

Gostaria de ser o bom amigo. Claro, com minha maestria de estragar tudo, acabei virando uma pedra no sapato.

8 de fevereiro de 2010

Não estranhem se eu começar falando aqui que o meu alento é 2012. É, parece ser a única saída pra fugir de tanta hipocrisia e tanta falta de discernimento dos seres humanos.

Não é difícil parar pra pensar e refletir que há algumas coisas no mundo que você NUNCA vai entender e NUNCA vai saber. Que ser dono da razão é, nada mais nada menos, sujar de óleo diesel e areia toda sua reputação. Decidir ser dono da razão é apagar da memória, sua e dos outros, todos os momentos em que você mereceu o elogio e teve a consciência tranquila de saber o que realmente estava fazendo.

Não, não é por que você tem mais idade que tudo que você fala irá acontecer. Ou muito menos querer que sigam o que você trilhou e falou ser o melhor. Até inconscientemente, tomar a decisão alheia por achar que viveu mais.

Mas é preciso lembrar por um instante que essa constante que você sugeriu ser a melhor tem uma variável: outra pessoa. Outra pessoa COMPLETAMENTE diferente de você. Uma pessoa com objetivos e desejos completamente diferentes do seu. O que serve/serviu para você, dificilmente irá servir para o próximo. Mesmo que você insista por toda sua vida, em querer que alguém seja o que você quer/quis.

As pessoas mudam, assim como eu mudei e você mudou. O mundo muda. O "ponto de vista" hoje anda de avião. O SEU "ponto de vista" não pode ficar estagnado. Nem tudo que você julga ser relevante é relevante pra pessoa ao seu lado.

Mas eu entendo o seu egocentrismo. O seu orgulho. Mas para você, egocêntrico e orgulhoso: VOCÊ NÃO É NADA.

Assim como já dizia o meu bom amigo Marcelo Soriano: "Todo mundo é uma espécie última bolacha do pacote. Melhor mesmo é ser ninguém, assim como todo mundo."

Olhe pro céu, entre no site da NASA, veja foto de galáxias, constelações e estrelas. E tira sua conclusão. É difícil ser sincero sobre si mesmo, mas tente. Tente e veja, que assim como eu, você não é nada.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Complica humanidade!

Sherlock Holmes e Dr. Watson foram acampar. Montaram a barraca e, depois de uma boa refeição e uma garrafa de vinho, deitam-se para dormir.

Algumas horas depois, Holmes acorda e cutuca seu fiel amigo:
- Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê".

Watson responde:
- Vejo milhares e milhares de estrelas.

Holmes então pergunta:
- E o que isso significa?

Watson pondera por um minuto, depois enumera:
- 1) Astronomicamente,significa que há milhares e milhares de galáxias e, potencialmente, bilhões de planetas.
- 2) Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte.
- 3) Temporariamente, deduzo que são aproximadamente 03h15min pela altura em que se encontra a Estrela Polar.
- 4) Teologicamente, posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes.
- 5) Meteorologicamente, suspeito que teremos um lindo dia amanhã. Correto?

Holmes fica um minuto em silêncio, então responde:
- Watson, seu idiota! Significa apenas que alguém roubou nossa barraca!



Moral da história: A VIDA É SIMPLES, NÓS É QUE TEMOS A MANIA DE COMPLICAR.