A fraqueza crónica de um
sistema democrático de governo, em oposição à ocasional, parece ser
proporcional ao grau da sua democratização. Os mais poderosos e estáveis
estados democráticos são aqueles onde os princípios da democracia foram
menos lógica e consistentemente aplicados. Assim, um parlamento eleito
segundo um sistema de representação proporcional é um parlamento
verdadeiramente democrático. Mas é também, na mairoria dos casos, um
instrumento não de governo mas de anarquia. A representação proporcional
garante que todos os sectores da opinião estarão representados na
assembleia. É o ideal da democracia cumprido. Infelizmente, a
multiplicação de pequenos grupos dentro do parlamento torna impossível a
formação de um governo estável e forte. Nas assembleias
proporcionalmente eleitas os governos têm geralmente de confiar numa
maioria compósita. Têm de comprar o apoio de pequenos grupos com uma
distribuição de favores mais ou menos corrupta, e como nunca conseguem
dar o suficiente ficam sujeitos a ser derrotados em qualquer altura. A
representação proporcional em itália conduziu ao fascismo através da
anarquia. Causou grandes dificuldades práticas na Bélgica, e agora
ameaça fazer o mesmo na Irlanda. Encontram-se governos democráticos
estáveis em países onde as minorias, por muito grandes que sejam, não
estão representadas, e onde nenhum candidato que não pertença a um dos
grandes partidos terá a mais leve possibilidade de ser eleito. Os
parlamentos em tais países não são de modo nenhum representativos do
povo. São totalmente não democráticos. Mas possuem um grande mérito, que
compensa todos os seus defeitos: podem formar governos suficientemente
fortes para governar.
Aldous Huxley, em "Sobre a Democracia e Outros Estudos"