É inevitável - e justo - que nossas mais altas intuições pareçam bobagens, em algumas circunstâncias delitos, quando chegam indevidamente aos ouvidos daqueles que não são feitos e predestinados para elas. O exotérico e o esotérico, como os filósofos distinguiam em outro tempo, entre os indianos e também os gregos, entre os persas e os muçulmanos, em toda parte onde se acreditava em hierarquia, e não em igualdade e direitos iguais, - não se diferenciam tanto pelo fato de que o exotérico fica de fora e vê, estima, mede, julga a partir de fora, não de dentro: o essencial é que ele vê as coisas a partir de baixo, - e o esotérico, a partir de cima! Existem alturas da alma, de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica; e, se as dores do mundo fossem juntadas numa só, quem poderia ousar dizer que a visão dela nos iria necessariamente seduzir e obrigar à compaixão, e desse modo à duplicação da dor?... O que serve de alimento ou de bálsamo para o tipo superior de homem, deve ser quase veneno para um tipo bem diverso e menor. As virtudes de um homem vulgar talvez significassem fraqueza e vício num filósofo; é possível que um homem de alta linhagem, acontecendo ele degenerar e sucumbir, só então adquirisse as qualidades que o levariam a ser venerado como um santo, no mundo inferior a que teria descido. Há livros que têm valor inverso para a alma e a saúde, a depender de quem os utiliza, se uma alma ignóbil, uma baixa força vital, ou uma superior e mais potente; no primeiro caso são livros perigosos, desagregadores, dissolventes, no outro são gritos de arauto, que incitam os mais valentes a mostrar o seu valor. Livros de todo mundo sempre são livros malcheirosos: o odor da gente pequena adere a eles. Ali onde o povo come e bebe, o mesmo onde venera, o ar costuma feder. Não se deve frequentar igrejas, quando se deseja respirar ar puro.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
O passarinho engaiolado
Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho. De sua vida o mínimo que se poderia dizer era que era segura e tranquila, como seguras e tranquilas são as vidas das pessoas bem casadas e dos funcionários públicos
.
Era monótona, é verdade. Mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança. Não há muito o que fazer dentro dos limites de uma gaiola, seja ela feita com arames de ferro ou de deveres. Os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaços para baterem suas asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode. Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar.
O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola. Bem se lembrava do dia em que, enganado pelo alpiste, entrou no alçapão. Alçapões são assim; tem sempre uma coisa apetitosa dentro. Do alçapão para a gaiola, o caminho foi curto, através da Ponte dos Suspiros. Há aquele famoso poema do Guerra Junqueiro, sobre o melro, o pássaro das risadas de cristal. O velho cura, rancoroso, encontrara seu ninho e prendera seus filhotes na gaiola. A mãe, desesperada com o destino dos filhos, e
incapaz de abrir a portinha de ferro, traz no bico um galho de veneno. Meus filhos, a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa... Ó filhos, voemos
pelo azul...! Comei...!
incapaz de abrir a portinha de ferro, traz no bico um galho de veneno. Meus filhos, a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa... Ó filhos, voemos
pelo azul...! Comei...!
É certo que a mãe do passarinho nunca lera o poeta, pois o que ela disse ao filho, foi: Finalmente minhas orações foram respondidas. Você está seguro, pelo resto de sua vida. Nada há a temer. Não é preciso se preocupar. Acostuma-se. Cante bonito. Agora posso morrer em paz.
Do seu pequeno espaço ele olhava os outros passarinhos. Os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os sanhaços, entrando mamões adentro; os beija-flores com seu mágico bater de asas; os urubus nos seus vôos tranquilos da fundura do céu; as rolinhas arrulhando, fazendo amor. As pombas voando como flexas. Ah! Os prudentes conselhos maternos não o tranquilizavam. Ele queria ser como os outros pássaros, livres...Ah! se aquela maldita porta se abrisse. Pois não é que, para surpresa sua, um dia o seu dono a esqueceu aberta? Ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre! Saiu. Voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo. Puxa! Como era alto. Sentiu um pouco de tontura. Estava acostumado com o chão da gaiola, bem pertinho. Teve medo de cair. Agachou-se no galho, para Ter mais firmeza. Viu uma outra árvore mais adiante. Teve vontade de ir até la. Perguntou-se se suas asas aguentariam. Elas não estavam acostumadas. O melhor seria não abusar, logo no primeiro dia. Agarrou-se mais firmemente ainda. Neste momento um insetinho passou voando bem na frente do seu bico. Chegara a hora. Esticou o pescoço o mais que pôde, mas o insetinho não era bobo. Sumiu mostrando a língua.
__ Ei, você __ era uma passarinha. __ Vamos voar juntos até o quintal do vizinho. Há uma linda pimenteira, carregadinha de pimentas vermelhas. Deliciosas. Apenas é preciso prestar atenção no gato, que anda por lá...Só o nome gato lhe deu arrepio. Disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha procurou outro companheiro. Ele preferiu ficar com fome. Chegou o fim da tarde e, com ele a tristeza do crepúsculo. A noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde sua gaiola ficava dependurada. Teve saudades dele. Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção. Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? E era preciso não esquecer os gambás. E tinha de pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.
Tremeu de medo. Nunca imaginaria que a liberdade fosse tão complicada. Somente podem gozar a liberdade aqueles que têm coragem. Ele não tinha. Teve saudade da gaiola. Voltou. Felizmente a porta ainda estava aberta.
Neste momento chegou o dono. Vendo a porta aberta, disse: __ Passarinho bobo. Não viu que a porta estava aberta. Deve estar meio cego. Pois passarinho de verdade não fica em gaiola. Gosta mesmo é de voar.
Rubem Alves
In TEOLOGIA DO COTIDIANO
Meditações sobre o Momento e a Eternidade
terça-feira, 25 de outubro de 2011
QUERO MAIS É QUE SE FODA
Tô de saco cheio da sua lamúria, espúria,
O mundo virou um Cover dele mesmo.
Esse papo de quem ta sofrendo uma dor de cu universal.
O tempo todo a mesma ladainha.
Disputando quem é sofre mais
Ou quem mais enganou quem.
Não se fala de outro assunto,
Minto,
Tem a tal da alegria falsificada
Ostentação do sorriso por condição
Todo mundo é gente boa,
Mas o país ta fudido
E se já ta fudido, então para quê lembrar?
Vamos dançar, comemorar, sair do chão
Feito um bando de desesperados felizes
Cornos de uma nação,
Que nos largou de lado e foi alimentar o amante, na cara dura
E ninguém fez nada,
Temos até certo orgulho em sofrer
E se sofrer é doído, então vamos cantar, beber e esquecer
Porque não tem mais jeito mesmo,
Já ta todo mundo na merda.
O que eu posso fazer?
- Você se pergunta -
Nada, apenas reclamar em casa ou com os amigos.
Então me deixa ser otário em paz,
Me deixa lembrar esse amor partido
Meu coração cheio de esperança,
Lá no fundo, querendo que ela volte.
- Mas ela não esta nem aí pra você seu otário
Já ta dando para outro
E você cantarolando essas musiquinhas de adolescente apaixonado
Apaixonado e bundão,
Mas não por estar apaixonado
Porque já nasceu Trouxa e acha isso o máximo.
Porque vocês já nascem condicionados,
Um bando de fedelhos, sofrendo de amor.
Morre desse amor então seu filho da puta,
Ostenta seu cotovelo dolorido
Vende essa lamúria de Butique
Porque o remédio do desespero, é sofrer feliz, para esquecer de sofrer.
Foda-se
Pro inferno vocês todos
Me deixa aqui, revoltado.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Daily Míllor - Ideologia
Não é prudente nem econômico! Abandonar uma ideologia só porque ela
saiu de moda. Pois ela é, no fundo, a própria moda. O que você tem a
fazer é encurtar um pouco a bainha, ou mandar tingir de outra cor,
talvez alargar um pouco aqui assim, nos ombros, alargar a cintura (a
gente era mais jovem), colocar uns babados, e pronto!, A ideologia está
de novo ápitudeite. Você pode ir com ela ao baile sem nenhuma vergonha.
Ninguém vai notar que está com mais de 10 anos de uso.
(via @millorfernandes / http://www2.uol.com.br/millor/)
(via @millorfernandes / http://www2.uol.com.br/millor/)
Dicionário Irrefletido - Parte II
História — Uma coisa que não aconteceu contada por alguém que não estava lá.
Ideologia — Bitola estreita para orientar o pensamento. Não existe pensador católico. Não existe pensador marxista. Existe pensador. Preso a nada. Pensa, a todo risco. A ideologia leva à idolatria, à feitura e adoração de mitos. E, finalmente, ao boquete ideológico.
Justiça — Sistema de leis legalizando a injustiça.
Lapidar — Verbo antigamente usado para atirar pedras em mulheres adúlteras. Hoje, desmoralizado no ocidente como punição, serve como prêmio e alto elogio: "Teu artigo, escritor, é lapidar". Também usado nos cemitérios (nas lápides) para elogios fúnebres. Não há canalhas nos cemitérios.
Medida — "Todo homem nasce duas doses abaixo do normal." (Humphrey Bogart)
Meyer — Bairro do Rio de Janeiro. Quando nasci, o Meyer era o umbigo do mundo. Vivíamos com a consciência, inconsciente, de que nunca teríamos que abandonar o bairro e a cidade (como muito mais tarde eu iria aprender que era o normal na maior parte das cidades pobres e tristes do Brasil) para sobreviver.
Ofensas — "O perdão às ofensas é uma grande virtude." (Moralismo tedioso de Machado de Assis. Do livro Pensamentos e reflexões de Machado de Assis)
Pão — O pão que o diabo amassou. Expressão incompreensível pois em nenhum lugar da Bíblia ou da História se diz que o Diabo era padeiro.
Propaganda — A madrasta da prostituição.
Televisão — Maravilha tequinológica que levou ao extremo o barateamento da popularidade. Criando a glória prêt-à-porter.
Variante — O gay põe sempre o carro adiante dos boys. Tem mais dicionário
(via @millorfernandes)
Ideologia — Bitola estreita para orientar o pensamento. Não existe pensador católico. Não existe pensador marxista. Existe pensador. Preso a nada. Pensa, a todo risco. A ideologia leva à idolatria, à feitura e adoração de mitos. E, finalmente, ao boquete ideológico.
Justiça — Sistema de leis legalizando a injustiça.
Lapidar — Verbo antigamente usado para atirar pedras em mulheres adúlteras. Hoje, desmoralizado no ocidente como punição, serve como prêmio e alto elogio: "Teu artigo, escritor, é lapidar". Também usado nos cemitérios (nas lápides) para elogios fúnebres. Não há canalhas nos cemitérios.
Medida — "Todo homem nasce duas doses abaixo do normal." (Humphrey Bogart)
Meyer — Bairro do Rio de Janeiro. Quando nasci, o Meyer era o umbigo do mundo. Vivíamos com a consciência, inconsciente, de que nunca teríamos que abandonar o bairro e a cidade (como muito mais tarde eu iria aprender que era o normal na maior parte das cidades pobres e tristes do Brasil) para sobreviver.
Ofensas — "O perdão às ofensas é uma grande virtude." (Moralismo tedioso de Machado de Assis. Do livro Pensamentos e reflexões de Machado de Assis)
Pão — O pão que o diabo amassou. Expressão incompreensível pois em nenhum lugar da Bíblia ou da História se diz que o Diabo era padeiro.
Propaganda — A madrasta da prostituição.
Televisão — Maravilha tequinológica que levou ao extremo o barateamento da popularidade. Criando a glória prêt-à-porter.
Variante — O gay põe sempre o carro adiante dos boys. Tem mais dicionário
(via @millorfernandes)
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
O paradoxo da afetividade
Cesare Pavese, in "O Ofício de Viver"
Ninguém sabe coisa alguma
Philip Roth, in "A Mancha Humana"
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Revista Cultural N12 – Entrevista Tico Santa Cruz
vocalista da banda Detonautas Roque Clube, uma banda de rock de verdade, que está na estrada há mais de uma década nos brindando com música de ótima qualidade. Leia a entrevista abaixo:
Novitas – Tico, a indústria musical de hoje, prefere o estilo fast food de música de fácil assimilação e que, principalmente, não acrescentam nada para quem ouve, sendo mais importante a aparência que a letra em si. Esse tipo de postura é pautado pela indústria musical ou pelo público que não se importa mais tanto com a qualidade musical?
Tico Santa Cruz – Podemos dizer que o comércio em geral é pautado pela política do consumo rápido e fácil. O ensino também se tornou “Fast Food” com escolas e universidades que pouco se importam com a formações dos jovens. Com a velocidade da informação e da produção de produtos em todos os setores, quem é que quer perder tempo com algo que precise de uma atenção mais concentrada? Quem quer se aprofundar e deixar de acompanhar as novidades que surgem a cada segundo? O que me assusta, com relação aos artistas, é que se antes existia um comprometimento com o que se produzia para poder vender, hoje se vende de qualquer maneira. Números, seguidores, curtições nas redes sociais são o que importa, o conteúdo ficou num plano qualquer.
Novitas – Banalização musical é um bom termo para qualificar a irrelevância de nosso cenário hoje em dia?
Tico Santa Cruz – Glamourização do nada. É cultuar qualquer coisa que se destaque sem se importar com o que esta sendo disseminado. Basta oferecer alguma pauta para sites e revistas de futricos e já se torna o suficiente para arrebanhar admiradores. Quanto mais coisa inútil ocupar os espaços nas vidas das pessoas, menos conhecimentos importantes terão seus valores reconhecidos. É uma ótima tática de robotização da juventude. Assim, ninguém incomoda os que dão as cartas.
Novitas – Rádios, programas de televisão, prêmios e gravadoras lançam bandas e cantores basicamente para atender ao público teen, perdendo o público adulto e que realmente consome cd´s e dvd´s para a internet e/ou para o cenário independente. Fazendo uma projeção pessoal, a indústria musical conseguirá manter esse cenário por quanto tempo?
Tico Santa Cruz – As gravadoras não tem mais qualquer influência sobre o que a juventude esta consumindo. Na verdade, eles estão apenas filtrando o que pode render algum lucro e apostando suas últimas fichas. A internet passou a ser a plataforma principal, o que a meu ver é algo positivo. O problema é que existe um paradoxo ainda sem solução a curto prazo, porque ao mesmo tempo que se tem liberdade e uma super-produção de material, o negócio fica extremamente diluído e raso. Observe o que tem mais acesso na rede: piadas, vídeos engraçados, blogs de fofocas, entretenimento sem compromisso com conhecimento. O entretenimento precisa necessariamente ter compromisso com alguma mensagem ou algum questionamento? Respondo: Absolutamente. Mas o problema é quando isso se torna o único e sedutor caminho. Todo mundo virou piadista, Quem oferece um conteúdo diferente, tem visivelmente menos espaços. É assim na música também. O cenário já mudou e quando terminar de ler esta entrevista, já terá mudado novamente. Temos que correr para nos adaptarmos.
Novitas – Pessoas que apreciam o bom e velho Rock and Roll sabem que algumas bandas equivocam-se quando se batizam como bandas de Rock. Você acredita que essa tentativa de “mutação” do Rock acontece só no Brasil ou em outros países, também?
Tico Santa Cruz – O Brasil sempre será como a Alegoria das Cavernas de Platão (risos), porque o que vemos aqui é o reflexo, a cópia do que esta fazendo sucesso lá fora. Essa infantilização do Rock é um percurso que começou logo após o fim do Movimento Grunge, talvez o último que tenha realmente alguma relevância em termos de estética como foi o Punk, o HardRock, o Metal. Uma outra vertente veio em paralelo, já de forma independente e que tem valor na cena, que são os “Indies”. Embora não compartilhe do gosto musical deles, reconheço que conseguiram erguer uma nova safra de bandas com algo interessante para movimentar. Mas o que a massa consome é o que a TV e o Rádio disseminam, e estes estão preocupados apenas com os lucros e a audiência. Dessa forma, até que alguém desperte e perceba o mecanismo, muitos cérebros já terão sido derretidos.
Novitas – A banda Detonautas Roque Clube é uma das que representam o que existe de melhor no Rock Brasileiro, pois, além do instrumental e voz fantásticos vocês nos brindam com músicas de letra relevante. Vocês já receberam várias indicações e prêmios de destaque, durante toda essa década de caminhada. Como é para vocês participar do Rock in Rio, se transformando na primeira banda do cenário independente a tocar no palco principal?
Tico Santa Cruz – O Detonautas é uma banda muito pouco conhecida em seu conteúdo real. Isso é realmente intrigante, mas compreensível, porque aprendi com Raul Seixas que se você quer entrar em buraco de rato, de rato você tem que transar. Então, depois de perder a inocência que é comum a todo artista que sonha em viver da sua musica, tocar no Rádio e aparecer na TV, você fica um pouco confuso. Como manter a qualidade e conseguir fazer o jogo deles, sem perder sua essência e contaminar seus valores? No meio disso tudo, recebemos fortes resistências após o segundo disco. Chegamos a ouvir de uma grande emissora de rádio que nosso conteúdo era profundo demais para seus ouvintes. Sinceramente? Além de perceber que esses homens tratam seus ouvintes como idiotas, tenho certeza absoluta que minhas letras não são tão eloquentes a ponto de obter tal rótulo. O negócio esta tão feio que daqui a pouco “Quando o sol se for” que é uma canção adolescente, de uma fase totalmente descompromissada com qualquer conteúdo mais profundo, irá se tornar um clássico da poesia.
Estamos felizes com o Rock in Rio, porque comprova que não precisamos puxar saco de ninguém e muito menos fazer politicagem para garantir espaços importantes. Mas, se eu tivesse mendigado votos e iludido meus fãs e seguidores com um amor fajuto, com certeza estaria num patamar mais popular.
Não acredito nessas premiações, desde 2003 quando fomos eleitos Revelação da MTV. Falo isso por experiência e conhecimento. Um dia revelo tudo num livro bomba.
Novitas – Vocês lançaram a música AC/DC fazendo uma versão sobre a música Back in Black, um clássico dos velhinhos AC/DC. Por que você acha que gerou tanta polêmica esse fato, sendo que outras bandas já fizeram o mesmo?
Tico Santa Cruz – Porque nós mexemos na ferida de quem esta ganhando dinheiro com essa geração que criticamos. Quando você mexe no bolso de alguém isso gera problemas e polêmicas.
Novitas – A música Combate está sendo um tremendo sucesso e fará parte do novo CD de vocês. Mais músicas do próximo CD serão liberadas?
Tico Santa Cruz – Não estamos preocupados com o formato tradicional dos CDs, vamos lançar uma musica por mês e isso fomentará o interesse dos fãs a medida que o trabalho for se desenvolvendo. Os downloads serão gratuitos, de forma que você poderá escolher seu playlist. No fim do processo, montaremos então um disco e distribuiremos de graça nos shows, faremos uma edição especial com um material um pouco mais trabalhado para quem quiser comprar e ter como lembrança da banda.
Novitas – Muitos gostam de ligar a música ao ambiente histórico em que ela surge. Assim, tivemos as músicas de protesto de Geraldo Vandré, Chico Buarque e muitos outros que, durante a época da Ditadura Militar, eram as vozes que eram destaque nas rádios. Hoje em dia não há ditadura formal, mas sim uma espécie de imposição política de vontades. E, com exceção da tua, por onde andam as vozes que deveriam cutucar as feridas do povo, fazendo-o acordar?
Tico Santa Cruz – Existem, mas como disse, tem poucos espaços. Mv Bill é um musico que consegue transcender as barreiras, Marcelo D2, O Rappa, Charlie Brow Jr, Natiruts, são bandas que tem conteúdo político em suas músicas. Talvez o discurso não chegue aos ouvidos da massa, mas está lá. E dos anos 80 temos um monte de artistas que se manifestaram tanto musicalmente quanto socialmente. Posso estar esquecendo outros nomes importantes, mas da minha geração pra frente no mainstream, desconheço quem meta a cara e esteja tratando desses assuntos sem rabo preso.
Novitas – O Tico Santa Cruz pessoa física, também conhecido como Luis Guilherme Brunetta Fontenelle de Araújo, já pensou em ingressar na política e tentar mudar as coisas de dentro para fora?
Tico Santa Cruz – Preciso amadurecer e ter mais jogo de cintura para conseguir me ver num cargo político. Política é uma arte, a arte de saber falar e de se calar, para em outra vez soltar as palavras no momento certo. Ainda estou num estágio que não sou capaz de ver algo e me calar. Preciso aprender a agir com um pouco mais de cautela, tenho consciência disso. Mas não viro as costas para política, mesmo que não atue por um partido, estou atuando como cidadão. Procurem pelo Voluntários da Pátria. Meu grupo de Ação política, social, cidadã que leva literatura, música e debates sobre todos estes temas às escolas, faculdades, presídios e outros lugares onde existam jovens interessados em argumentar e questionar com conteúdo.
Novitas – Agradar gregos e troianos é sabidamente impossível, assim como conviver pacificamente com ambos, pois as zonas neutras hoje são chamadas simplesmente de muro. Acredita que há como equilibrar forças políticas e fazer que nosso país avance para alguma direção, sem ficar dando cabeçadas nas mesmices e suas regras já meio que fora de moda?
Tico Santa Cruz – Acredito que há momentos em que precisamos ser radicais. Mas o radicalismo tem de ser inteligente. Não deve ser gratuito e nem atingir pessoas, mas sim idéias. Não faço questão de agradar injustos, nem de fazer tipo para parecer simpático. Tenho minhas convicções, podem estar erradas, se perceber que estou equivocado sou capaz de repensar e mudar minha postura, mas pra isso será necessário um bom argumento que me faça refletir. É o que tento fazer, oferecer outros argumentos, outras abordagens, mas não sou dono da verdade e nem quero convencer ninguém, apenas tento deixar a pulga atrás da orelha. Cada um encontrará seu caminho.
Novitas – A imobilidade brasileira atingiu o topo, onde errado é o artista que convoca as pessoas para protestar. Disso, surgem as agressões gratuitas, principalmente na internet. Como você se sente quando isso acontece?
Tico Santa Cruz – Me sinto o idiota no país dos espertos.
* Essa entrevista foi relizada antes do Rock in Rio
http://revistasnovitas.com.br/2011/10/revista-cultural-n12-entrevista-tico-santa-cruz/
A criação de deus como travão aos instintos
Friedrich Nietzsche, in 'A Genealogia da Moral'
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Uma vida feliz
John Stuart Mill, in 'Utilitarismo'
A genética condiciona a felicidade
Friedrich Nietzsche, in "Humano, Demasiado Humano"
O absurdo do cúmulo da felicidade
Fiodor Dostoievski, in "Notas do Subterrâneo"
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