Ninguém sabe coisa alguma
Porque nós não sabemos, pois não? Toda a gente sabe.
O que faz as coisas acontecerem da maneira que acontecem? O que está
subjacente á anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às
contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os
assuntos humanos? Ninguém sabe, professora Roux. «Toda a gente
sabe» é a invocação do lugar-comum e o inimigo da banalização da
experiência, e o que se torna tão insuportável é a solenidade e a noção
da autoridade que as pessoas sentem quando exprimem o lugar-comum. O que
nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém
sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos,
não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É
espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda
é o que passa por saber.
Philip Roth, in "A Mancha Humana"
Nenhum comentário:
Postar um comentário