A Sociedade Destroça o Indivíduo
Trata-se dum conjunto, dum
todo, a sociedade, e, podre, uma vez que é preciso contar com ela ao
mesmo tempo que se não deve contar. Quer dizer, é como um conjunto
estável, composto por elementos instáveis. Ora é impossível viver no
interior, sem sofrer essa instabilidade, esse monte de mentiras. Surge
então o medo de utilizar o mínimo pormenor que participe dessa
instabilidade. É a revolta. Você duvida do valor das palavras, dos
gestos, do que representam as palavras, das ideias, das simples
associações de ideias, dos sonhos e até da realidade, das sensações mais
claras, mais agudas. Você duvida mesmo da sua dúvida, da organização
que toma, da forma que adopta. Não lhe fica nada, nada. Já não é nada, é
um camaleão, um eco, uma sombra. Isso é obra da sociedade, compreende?
J.-M. G. Le Clézio, in 'A Febre'
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