3 Anos sem Syd Barret

Segue o diálogo:

"Hoje é um daqueles dias de pegar o seu vinil, o seu CD, ou abrir sua pasta de MP3's do Pink Floyd e ir naquele cantinho que geralmente você não vai. Ali, do lado, até meio que empoeirado, meio arranhado e meio esquecido. Não tá vendo? Uma verdadeira obra prima. Não, tira esse Michael Jackson daí, esse é só mais um artista dos corrompidos pela mídia suja que nos rodeia. Deixa esse esse 'pop' pra lá e vamos ouvir alguma coisa que não seja só com interesse 'comercial', nem muito menos 'pop'. Vamos ouvir uma coisa que tenha sido escrita pra um público que gosta de pensar, de refletir, de se auto-analisar e analisar tudo que nos rodeia. Eu to cansado de ficar repetindo frases de efeito, de músicas com uma so letra, um so sentido. Hoje não! Hoje eu não vou me render a indústria da música. Cara, ainda não sabe o que escutar? Pega esse Opel aí e vamos relembrar a verdadeira música, o verdadeiro rock e como tudo começou."

Eu poderia até debater isso com alguém hoje, sobre o que escutar ou não escutar. Mas eu tenho uma boa liberdade e tenho o prazer de escutar o que eu quero. E não o que me impõem. Eu não nasci gostando de Pink Floyd, não nasci mesmo. Eu nasci ouvindo forró pé de serra, que eu realmente gosto, ouvindo músicas tachadas de 'bregas' que meus pais escutavam mas que hoje fazem o maior sucesso em ritmos diferentes na boca dos jovens. Interessante né?

Com o tempo eu fui conhecendo pessoas que me mostraram um bom trabalho e uma verdadeira música. Mas claro, adolescente tem que crescer ouvindo algo que fique marcado. E eu ouvi! Ouvi Cranberries, R.E.M, Oasis, Aerosmith e tantos outros. Bandas que eu jamais esquecerei. Mas faltava algo na música pra mim. Faltava algo que eu ainda não havia sido apresentado e que meu senso musical clamava por conhecer. Até olhei estranho naquele dia no Sebo de Alex (Alexeiev Castelo Carneiro, meu bom e velho amigo), na hora que ele colocou aquele CD pra tocar. "Wish you were here". Aquela capa, aquele encarte. No outro canto do Sebo uma obra prima, que eu não fazia nem idéia: Dark Side of The Moon, numa preteleira. E eu não tinha a idéia do valor daquilo. E eu comecei a ouvir, Shine on you crazy diamond. Aquela música da primeira vez quase sem final pra mim. Mas que hoje eu não tenho palavras pra descrever tal obra prima. Desde aquele dia eu comecei a me interessar mais sobre tudo que vinha da banda, não como um fanático, alucinado, ao ponto de por o Pink Floyd como o "Rei" de alguma coisa. Eles não precisam disso, nunca precisaram e na verdade eles nunca quiseram. Eles faziam musica pra quem gostava de música e não pra fazer quem não gostasse gostar. Eles so queriam tocar sua música. E ponto final. É o que mais ou menos eu sei sobre eles. Afinal, nada a é certo sobre eles.

A 3 anos morria o precursor da banda: Syd Barret. Uma verdadeira lenda que vai viver no coração de todos que gostam do Pink Floyd. E eu lembro como se fosse hoje de uma matéria no Jornal Hoje: "O mundo em 1 minuto: Morre o fundador do Pink Floyd, Syd Barret". E pouca coisa a mais que isso. Fenômeno como ele vai ser difícil de aparecer mais uma vez. Ele não precisou de marketing, nem precisou criar polêmica de como iria ser enterrado, se ele realmente havia morrido, se ele tomava remédios, do que ele havia morrido. Não venderam ingressos pro funeral dele, não fizeram tanta vontade de ver o que tinha na herança dele e o que ele havia deixado. Não passaram uma tarde inteira cobrindo o seu funeral. Ninguém precisou ir la em cima cantar as músicas dele. Ele não precisou ser enterrado num caixão de ouro. Ele não teve mais de 30 clips. Ele não teve mais CD's vendidos e mais prêmios Grammys no mundo. Ele não precisou mudar de cor. Ele não queria nada disso.

Ele só queria sair com os amigos, cantar e tocar. Somente isso. Suas letras e suas melodias e o seu papel como fonto inspiradora para tantas poesias feitas por Gilmour, Waters e companhia, é o que ralmente importa pra nós, fãs do Pink Floyd e Fãs do Syd Barret.

E ele faleceu, faleceu na sua casinha no interior da Inglaterra. Mas deixou uma legião de novas filosofias e um ensinamento que muita gente por ai deveria seguir. Ele não precisou falar isso diretamente: mas música se faz com a cabeça e com as idéias. Não com empresários e grandes gravadoras. Empresários e Gravadoras? Não, isso não é música. Isso chama-se Comércio de Polêmicas e monopólios.

Eu posso até não entender muita coisa sobre ele e sobre o Pink floyd, mas essa é minha visão geral sobre tudo. Não só sobre a banda, mas o que acontece hoje com o mercado musical.

Só mais uma coisa: 07/07 é, pra mim, a data da morte de um verdadeiro artista, que não teve o marketing e o glamour do Pop e que também não queria nem precisava, e não a data do enterro de um produto comercial e banalizado, que se tornou a música, que se prestou a cada tipo de coisa que hoje em dia parecem ser as coisas mais simples do mundo pra quem vêr de fora.

O brasileiro é o povo mais engraçado do mundo, para pra assistir o enterro de uma pessoa que eles nunca viram e nunca fez nada por eles e não para um tempinho pra pensar em quem vota, não para um pouquinho pra ler um livro. Se preocupa com o enterro de um parente da família por causa do preço do caixão, da forma como vai pagar, mas chora na hora que vêr o "Rei do Pop" ser enterrado.

E tome-lhe hipocrisia!

¹(Enaldo Segundo é Estudante de Graduação em Engenharia Florestal na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, respeita todos os estilos musicais, inclusive o do tal de Michael Jackson, mas não se conforma com idolatria vendida e idolatria exagerada.)

²(Todo o texto foi redigido ao som de todo o Opel (Syd Barret), e em homenagem ao mesmo e a todos os fãs dele e do Pink Floyd).