sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

The Turin Horse

- Por que não vai para a cidade?
- O vento a levou...
- Como assim?
- Ela está arruinada.
- Por que ela está arruinada?
- Por que tudo está em ruínas. Tudo está arruinado mas posso dizer que foram eles que arruinaram e degradaram tudo. Porque esse tipo de cataclisma não viria sem uma inocente ajuda humana. Pelo contrário, estou falando da mente humana, da capacidade de julgar a si mesma. E claro que Deus tem uma mão nisso, ou, ouso dizer: tem parte nisso. E, seja qual for a sua parte, é a criação mais horrível que se pode imaginar. Porque, você vê, o mundo foi degradado. Então não importa o que eu digo porque tudo foi degradado assim que foi adquirido, e visto que eles adquiriram tudo de forma sorrateira, insidiosa, eles degradaram tudo. Porque tudo que eles tocam, e eles tocam tudo, foi degradado. E assim será até o triunfo final, até o triunfante final. Adquire, destroi. Destroi, adquire. Posso escolher outras palavras, se você quiser: toca, destroi e com isso adquire, ou toca, adquire e então destroi. E tem sido assim por séculos. Sempre, sempre e sempre. Às vezes dissimuladamente, às vezes arrogantemente, às vezes delicadamente, às vezes violentamente, mas sempre e sempre. Sempre da mesma forma, como um ataque de ratos em uma emboscada. Porque, para sua vitória perfeita foi importante a colaboração do outro lado. Ou seja, tudo que é excelente, grande de certa maneira e nobre não deve participar de qualquer batalha. Não deve haver luta, o simples desaparecimento repentino de um lado, significa o desaparecimento de tudo o que é excelente, grande e nobre. De modo que esses vencedores que atacam de emboscada, agora governam a terra, e não haverá um único canto onde poderá se esconder deles, porque tudo em que eles puderem por a mão é deles. Até as coisas que pensamos que não podem alcançar, mas eles alcançam, também são deles. Porque o céu pertence a eles, e todos os nossos sonhos. Deles é o momento, a natureza, o silêncio infinito. Até mesmo a imortalidade é deles. Tudo, tudo está perdido para sempre! E essa multidão de nobres, grande e excelente, permanece lá, se assim posso me expressar. Eles pararam nesse ponto e tiveram que entender, e tiveram que aceitar que não há nem Deus nem Deuses. E o excelente, o grande e o nobre foram obrigados a entender e aceitar este fato desde o início. Mas é óbvio que eles não foram capazes de entender. Eles acreditaram e aceitaram, mas não conseguiram entender. Permaneceram ali, perplexos, mas não resignados, até que alguma coisa, aquela centelha do cérebro, finalmente iluminou-os. E de repente perceberam que não há Deus ou Deuses. De repente eles viram que não há bons ou maus. Então eles viram e entenderam que se isso for verdade, então eles mesmos não são nada. Veja, eu acho que isso pode acontecer no momento em que possamos dizer que eles estão extintos, queimados. Extintos e queimados como o fogo faz ao arder lentamente no prado. Um é sempre o perdedor, o outro é sempre o vencedor. Derrota, vitória, derrota, vitória, e um dia, aqui na vizinhança, fui obrigado a perceber, e percebi, que estava enganado, estava verdadeiramente enganado quando pensei que nunca houve e nem poderia haver nenhuma mudança no futuro. Porque, acredite em mim, agora eu sei, que essas mudanças já ocorreram.
- Deixa isso pra lá, isso é bobagem.

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