quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Professor Clóvis e a carnificina da vida

"Portanto é possível lutar pela vida, percebendo que a morte está na vida, toda vez que o mundo te agride, te lesiona, te danifica, te decompõe, como uma rabada estragada. A hora que você entende que a morte esta na vida e que tem a ver com a tristeza, certamente você vai vender mais caro os instantes tristes. A gente se acostuma muito em se entristecer. De certa maneira a gente baixa a guarda pro mundo entristecedor muito fácil, por que acha que logo uma alegria virá e tá tudo certo. Não tá não. Uma tristeza vivida é irrecuperável, esta petrificada na eternidade. Potência perdida é irrecuperável. Uma nova alegria é uma nova alegria. Mas a tristeza experimentada produziu em você danos irreversíveis como todos os efeitos que o mundo produz sobre você. Quando você vê uma pessoa num caixão, num velório, o que você vê ali é o que sobrou de um conjunto interminável de momentos em que o mundo entristeceu. Aquilo é uma trajetória ininterrupta de tristezas concentradas e condensadas em um instante cadavérico. É a vitória definitiva do desencontro com o mundo, do desamor, da tristeza. É a vitória definitiva de um mundo que mais lesionou do que alegrou. Vitória inexorável, necessária, triunfo estatístico do mal sobre o bem. Assimetria do mal e o bem. Por que a gente já falou: numa vida em que um orgasmo dura 4 ou 5 segundos e uma enxaqueca 4 ou 5 horas, você deve imaginar que tipo de luta você tá lutando. Uma luta em que a chance de perder é de 100%. A assimetria entre o bem e o mal tem como placar final cemitérios. A assimetria entre o bem e o mal é a reveladora de que a probabilidade do mundo te entristecer e te apequenar é infinitamente maior do que a probabilidade de produzir o efeito contrário. E você dirá: o seu objetivo nessa manhã foi de fuder a vida? Não, pelo contrário. Foi mostrar pra você que quando alguma coisa te alegra essa alegria não pode ser tratada como se não tivesse importância. Quando alguém ou alguma coisa te alegra você tem que humildemente agradecer. Agradecer porque a alegria quando o mundo proporciona ela é rara. Ela é bem precioso. Só pode ser objeto do seu mais sincero amor. Quando alguém sistematicamente te alegra, esse alguém é um bem do qual você não pode prescindir. Por que a chance do mundo te entristecer é imensa. Portanto quem passa a vida alegrando os outros é de fato um antídoto raro e precioso contra a carnificina da vida. A gente só pode mesmo amar aqueles que tem o dom de, por um instante mínimo que seja, produzir em nós um ganho de potência e de perfeição." 

Extraído da aula: A dinâmica dos afetos. Link abaixo.

https://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&list=UUYKyqGnlXQc-wm692ehAeXA&v=HwTcwVgc5lk

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